Moda e diversidade VS a realidade da indústria
A moda e a hipocrisia do publico sobre os padrões impostos na indústria.
Recentemente, a influenciadora digital Maya Massafera fez uma declaração polêmica ao afirmar que:
"No mundo da moda, a gente gosta de mulher muito magra. É gosto. Tem gente que gosta de mulher mais sarada, de mulher gorda. Eu acho mais bonito mulher magra. A modelo Kate Moss falou: 'Não tem sensação melhor do que sentir-se magra'. Você tendo saúde e se cuidando, é do jeito que você gosta". Minha avó é mais simples, e ela fala: 'May, engorda um pouco, parece que está passando fome'. Então, gente mais simples gosta de gente mais cheinha. Elite, moda, gosta de gente mais magra.” afirmou Maya em seus stories.
A colocação gerou grande repercussão e muitas críticas, pois o contexto usado reforça uma visão limitadora da moda, perpetuando padrões que há anos excluem corpos diversos. Como estudantes e profissionais da moda, é essencial enxergar esse mercado não apenas como uma ferramenta de diversidade e expressão, mas também como um reflexo das estruturas sociais que determinam quais corpos são considerados desejáveis e vendáveis. E por isso antes de irmos atacar a fala da Maya precisamos entender como isso ressoa na moda e na indústria e como você, que está atacando uma pessoa na internet por causa de um comentário infeliz é o culpado por essa visão na moda.
A realidade do padrão estético na moda : Passarelas
Apesar dos avanços na discussão sobre inclusão, a moda ainda impõe padrões corporais rigorosos. Modelos enfrentam pressão para se encaixar nesses padrões, muitas vezes recorrendo a dietas extremas, uso de substâncias nocivas e procedimentos cirúrgicos para manter suas medidas. O sistema de castings e agências continua priorizando um biotipo específico, tornando a inclusão de diferentes corpos um desafio dentro da indústria.
Outro ponto que existe mais ninguém critica ou deixa de consumir por esse motivo , é que as grandes semanas de moda que existem pelo mundo fora, nas passarelas não vemos inclusão ou diversidade de corpos marcas grandes e conhecidas utilizam apenas corpos padrões mas da mesma forma os desfiles são consumidos e aplaudidos por muitos.
A falta de diversidade nas modelagens e o alto custo da inclusão
Quem já estudou modelagem entende a grande dificuldade que as marcas encontram quando querem alterar a grade de tamanhos das suas coleções. Muitas marcas não incluem tamanhos diversos em suas coleções, pois alterar a grade de modelagem é um investimento altíssimo. A modelagem de uma peça tamanho P não pode simplesmente ser ampliada para um G4 sem ajustes estruturais, muitos mais complexos. O processo envolve novos moldes, testes e padrões de produção, e muitas marcas temem que o retorno financeiro não justifique o custo. Assim, optam por focar nos tamanhos que já possuem alta demanda.
O dilema das marcas: diversidade ou demanda?
As marcas existem para vender, e elas produzem aquilo que sabem que seu público vai consumir. Existe um segmento que deseja representação e diversidade, mas também um público que se espelha em padrões estabelecidos, como o das "angels" da Victoria's Secret. Assim, muitas marcas enfrentam um dilema: investir na inclusão e correr o risco de baixo retorno ou manter o padrão que garante lucro imediato?
Rihanna e a Fenty: um caso de diversidade na moda
A Savage X Fenty, marca de lingerie de Rihanna, é um exemplo de empresa que aposta na diversidade de corpos, outro exemplo que cito é a Skims marca de Kim Kardashian que trás uma grande diversidade de cores e estilos. Os desfiles da Savage X Fenty incluem modelos de diferentes biotipos e desafiam os padrões tradicionais. No entanto, apesar do impacto positivo, a marca ainda não atinge o mesmo status e visibilidade da Victoria's Secret, mostrando que, mesmo com alternativas mais inclusivas, o mercado e o consumo nem sempre acompanham essa mudança.
A hipocrisia do público e da indústria
Vou dar um grande exemplo de hipocrisia nesse assunto, em 2019, a Victoria's Secret foi amplamente criticada por não incluir diversidade em seus desfiles, e sobre as famosas angels terem um padrão de beleza inalcançável por conta da sua magreza extrema, toda essa oposição do publico levou a marca a um hiatos de cinco anos, nos seus famosos desfiles. Porém quando retornou em 2024, pouco havia mudado.
Trouxeram modelos como Gigi Hadid, Bela Hadid kate Moss,Adriana Lima, Alex Consani, Barbara Palvin e Candice Swanepoel e eu te questiono qual é a diversidade entre essas modelos ?
Mas, ironicamente, o público que antes criticava comemorou o retorno da marca. O desfile virou tendência, trazendo a marca de novo aos holofotes no mundo da moda e no TikTok, e influenciadoras criaram conteúdo usando áudios que exaltavam o padrão magro, provando que, apesar das críticas, a sociedade ainda consome e glorifica esses ideais.
A Hipocrisia continua…
E essa hipocrisia do publico só cresce porque nos mulheres não só modelos, influencers ,famosas mais mulheres no geral, somos criticadas o tempo inteiro pelos nossos corpos. A Maya proferiu essa frase em seus stories como forma de resposta á pessoas que estavam atacando ela, por seu corpo, por ela ser magra demais, só que por outro lado esse mesmo publico está nos comentários da Paola Oliveira falando o quanto ela está Gorda (WTF??). E não para por ai… Bruna Marquezine sofre ataques todos os dias por ser magra, Yasmin Brunet quando estava no Big Brother Brasil recebeu diversos comentários dizendo que a a imagem da mesma não condizia com suas fotos no Instagram sendo que a mesma tem Lipedema ,até mesmo a cantora IZA enquanto estava GRÁVIDA foi obrigada a ler comentários negativos sobre seu corpo que estava gerando vida, e muitas outras todas passaram e passam pelo mesmo problema, um publico que acha que tem o direito de ditar como elas devem ser para serem amadas e terem o mínimo que é respeito.
Então sim quando você vem a internet atacar uma pessoa pelo simples fato de que ela falou uma frase mais que o contexto que usou foi de uma forma que não deveria você só está sendo hipócrita, e ataques na internet não ensinam ninguém nada. Você quer se posicionar sobre a fala que você não concorda ? OK, é seu direito, mas se posicione com embasamento e respeito, e antes de apontar o erro de alguém observe se você mesmo não cometi o mesmo erro consumindo um conteúdo que não tem nada a ver com o mesmo motivo dos ataques que você está proferindo a alguém.
#Conclusão
A declaração de Maya Massafera é infeliz, mas o problema vai muito além dela. A moda está mudando, a inclusão está crescendo, mas ainda existe um sistema enraizado que favorece padrões, e isso não é um reflexo apenas da moda, ou da indústria, ou de uma de uma influenciadora na internet, como eu disse a indústria reflete a sociedade, e enquanto o público continuar consumindo e exaltando um padrão, as marcas irão priorizá-lo. O caminho para uma moda mais inclusiva passa por mudanças estruturais, investimentos, e principalmente, uma transformação na mentalidade dos consumidores.
Blog escrito por : Anna Lívia Borges
Publicado originalmente na Newsletter Capsule Letter - Substak